quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Turn to Stone

Tinham andado pela orla durante alguns minutos, falando bobagem e admirando a vista ao redor: Copacabana amanhecia.
Chegando ao arpoador resolveram sentar em um daqueles banquinhos próximo aos quiosques e aquela hora da manhã não havia quase ninguém na areia. Exceto aquelas vovós com seus cachorrinhos passeando, que irritavam levemente a ele. "Fiquem em casa dormindo, uma hora dessas... Um absurdo" Disse.

Conversaram por pouco tempo, mas pareciam horas. Se conheciam há pouco tempo, mas já tinha se acostumado a tê-lo por perto. Não tinha encontrado nada parecido antes e aquele pouco tempo de conversa só justificava o fato dele acreditar ter realmente ouvido sininhos quando dedilhou a barriga dele e os dois enfim se beijaram.

Dentre papos sobre família, barulho de sobrinhas e grandes encontros familiares, surgiu o assunto:

- Mas a sensação é boa, né?
- Certeza. É sim.
- E o melhor de tudo é saber que se é correspondido - Disseram juntos, com o final da frase se encaminhando pra um sorriso largo.

Talvez ali na hora não tivesse ficado claro pra ele o quão importante aquela manhã estava sendo, ou o quão especial tinha sido aquele tempinho sentado na frente do mar jogando conversa fora ou o quão ele realmente tinha ficado encantado por ter visto o outro de óculos.

Uns funcionários da comlurb ajeitando a areia, alguns surfistas e uns turistas árabes ou mulçumanos que provavelmente ficaram ofendidos com a breve e bonita demonstração de afeto passavam por ali. Devia ter mais gente, mas o sono não deixava lembrar. Mas uma coisa o sono não conseguiu fazer esquecer, que era a sensação de que aquele momento era bom demais e merecia ser eternizado.

Sempre sonhou com um instante daqueles, aquele dia até então só existia nos seus sonhos e só ali ele continuará existindo.

Resolveu então esculpi-lo em pedra, para eternizá-lo assim em sua memória. Junto do toque surpresa das mãos do outro segurando seu rosto e dando um beijo rápido na despedida na porta do apartamento.

Eternizar sim, este momento e não os vários outros de indiferença que surgiriam pela frente. Lembrar sempre do vento frio passando pelo seu rosto sorridente e encontrando o dele naquela manhã, e não o jeito inanimado e vazio que passou a ver na face do outro nas semanas perto do fim. Guardar as brincadeiras e o jeito doce dele dizer as coisas e não a rispidez e a frieza com que detalhou naquela longa noite em claro todos os seus casinhos-amorosos-relâmpago e noites aleatórias de sexo com desconhecidos.

No final das contas, o sonho era de um deles só.