segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Digitais nos Ossos

Eu estava deitado na grama, observando o mar acima de mim e me lamuriando sobre alguma coisa que eu tinha inventado. E ele me ouvia pela quinquagésima sexta vez.

Sobre minha cintura repousava sua cabeça. Pesada, era como se os ossos estivessem em contato direto. Depois de mim, falava.

Eu ouvia, já ficando sóbrio. Senti que não conseguiria falar nada. Mas naquele momento percebi que tinha conquistado algo muito importante. Confiança.

Então, era como se sua cabeça pesada fosse ficando leve, fosse esvaziando. Nossos problemas e monstros inventados iam flutuando pra se afogar naquele mar rosa.

O jeito que ele leva a vida me excita. O jeito que se diverte e o jeito assustador que canta Odara. É algo muito diferente de mim. É algo em que eu me espelho.

E ele não me deixou queimar rápido demais. Isso me encanta.

Torno a repetir:
"Não saia correndo. Senão vou quebrar suas pernas." :)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Monstro Francês

Prefácio


"Sou um homem muito fácil de entender, Sayuri. Não gosto que me mostrem coisas que não posso ter."

(Memórias de Uma Gueixa, p. 431)






Parte 1

- Quinze minutos, quinze minutos! O trânsito tá meio parado aqui. Mas já to em Copa, já!
- Tudo bem! Estou te esperando.

Era divertido porque não dava pra saber se ele estava irritado ou se ele apenas estava enrolado pra falar português com aquele delicioso sotaque francês carregadíssimo que tinha. O trânsito realmente estava uma droga, por causa daquela maldita obra do metrô que nunca acabava (devia faltar o que, uns... 400 dias? nem lembro.) e eu estava parado naquele túnel próximo a ela.

Minha culpa por ter saído um pouco mais tarde e ter perdido o primeiro ônibus também, mas isso não vinha ao caso. O trânsito se arrastou e eu desci do ônibus no meu ponto, onde geralmente todo mundo desce para ir ao arpoador. Encontrei o apartamento rápido e liguei pra ele, pra avisar que tinha descido.

- Olá, rapaz!

Rasgou-lhe a face um sorriso, meio animado e muito safado. Eu sempre me surpreendo com a altura das pessoas que conheço. Esse francês devia ter uns... 1,92. Tinha a pele clara levemente queimada de sol (férias no Rio), ombros largos e braços compridos e fortes (natação e academia, definitivamente). Seu rosto era lindo, tinha um formato meio oval e cada parte dele foi ali colocada meticulosamente. Possuia olhos castanhos e sobrancelhas grossas. Sua boca continuava me mostrando o sorriso de minutos atrás, enquanto subiamos pelo elevador.

Abriu a porta, me deixou entrar e pediu pra que eu me sentasse no sofá da sala. Era um apartamento bastante confortável. De pessoa sozinha, com a sala não muito grande e a primeira vista parecia ter um banheiro e um quarto. A cozinha era junto com a sala, então a vi logo de cara. Um balcão no canto esquerdo do apartamento com fogão, pia e a geladeira próximo.

No processo da linguagem fática, me ofereceu algo pra beber e eu devo ter recusado polidamente. O que foi a deixa pro proximo ato. Enquanto as peças de roupa iam caindo perto do sofá, pude notar que ele tinha uma tatuagem linda nas costas, cujo desenho eu não me recordo agora. Mas devia ser muito bonita pra me fazer distrair do francês semi-nu a minha frente. Por fim retiramos as sungas - sim, sungas. Ele tinha me pedido pra ir de sunga - e nos jogamos no sofá.

No quarto, me senti em um centro cirúrgico. Tudo o que o médico precisaria para realizar a cirurgia estava ali ao seu alcance. Tesoura, Gaze, etc. Até pude ver seus diplomas de medicina pendurados na parede do quarto. Sorte que não tinha um enfermeiro ou uma equipe médica pra ajudar também. Quer dizer...

Quando a cirurgia de fato começou, perdi toda a minha aversão a hospitais e médicos e procedimentos cirúrgicos. Por mais estrategicamente que trabalhasse, ia deixando de se assemelhar a um doutor e o primeiro espanto ao entrar no quarto passava. Mesmo assim, não conseguia me sentir a vontade. Acho que não estava num dia bom. O curioso é que quando faço um esforço pra lembrar mais claramente das cenas agora, a primeira coisa que me vem a mente é uma baguete francesa.







Parte 2


Ao final de tudo, eu estava de bermuda próximo a janela da sala, olhando o movimento da rua. Ele voltava do banheiro, com o olhar brilhando e o mesmo sorriso de quando o encontrei na porta do prédio. Usava apenas aquela sunga preta e pegava suas roupas caidas no sofá. Tinhamos planos de ir a praia desde o inicio da conversa pela internet. Por isso até fui de sunga mesmo.

Vesti minha camisa e esperei que ele pegasse todos os acessórios pra praia. Pude ver que tinha pego duas cangas, o protetor solar, a carteira e a chave do quarto e os óculos escuros. Calçou os chinelos, abriu a porta, saímos.

Lembro que fomos até o arpoador conversando sobre como se falava chinelo em francês, mas não consigo lembrar da conversa a ponto de reproduzí-la. Mas ela foi bem divertida.

Chegamos na praia por volta de 18:00. O céu estava bonito, em um tom laranja com algumas nuvens. Tinha um grande espaço a nossa frente, o que fazia o mar quebrar suas ondas longe da gente. O sol preparava-se pra se por atrás do pão de açúcar e eu estava sentado olhando o francês se banhar na água gelada do fim da tarde.

Não o conhecia e nem iria. Ele voltava pra França dentro de poucos dias, e estava ocupado fazendo qualquer outra coisa. Eu trilhava meu caminho de volta pra casa mentalmente, e pensava em como ia ter que andar até perto do ponto final de meu ônibus em Ipanema. Ele voltava da água.

- Ótima água! Um pouco fria, mas ótima! Não vai entrar?
- Sim, estava esperando você voltar.

De novo o sotaque gostoso de ouvir combinado com aquele corpo esguio salgado e molhado do mar me distraiam de qualquer outra coisa. Levantei e entrei n'água. Fria. Gelada. Cortante. Igual ao vento que batia na hora. A única coisa quente no momento era a tonalidade do céu e a cor vermelha da minha sunga.

Sentei ao seu lado e conversamos sobre alguma coisa bastante aleatória, não sei se sobre o casal de namorados ali perto ou sobre a cor do céu. Foi quando decidi pegar meu celular e fazer umas fotos da paisagem. Tirei algumas dele também, e ele logo se prontificou a tirar algumas minhas. Perdi todas essas fotos em uma formatação, exceto uma do por do sol que tratei de postar em um fotolog antigo.

De volta ao apartamento, tinha acabado de tomar meu banho gelado e analisava o banheiro. A minha frente tinha um pequeno varal, com algumas cuecas dele de uma marca importada que não faço idéia qual seja, mas duvido que seja o mesmo preço que as minhas. Era aquele tipo de cueca boxer, bem costurada e com uns detalhes bonitos. Eu acho isso um luxo muito grande. Quando compro cuecas ou meias, sempre procuro aqueles pacotes com três ou cinco das normais. Ao lado tinha-se toda uma gama de produtos para cabelo e em um cesto ali perto suas roupas para lavar.

Saí do banheiro vestindo apenas a sunga que estava secando ainda e tratei de procurar minhas roupas. Ele estava no balcão da cozinha, preparando um sanduíche de queijo e abrindo uma garrafa de suco de manga. Sentei-me perto da janela novamente, e a noite já tinha caído. Folheava alguma revista, quando ele se sentou ao meu lado e falou alguma coisa dispensável. Eu é que não notei de primeira, mas estava sozinho naquele apartamento desde a hora que voltamos da praia.






Anexo 1

sábado, 2 de janeiro de 2010

Finalmente, dele.

São aqueles momentos que não duram mais que três segundos no meu relógio mental que não estava mais funcionando desde a terceira garrafa de cerveja. Nessas horas que me vanglorizo da minha fraqueza com bebidas.

Tinhamos passado pela recepção, falado algo com a atendente sobre preços e em fração de segundos (relógio mental) estavamos na porta do elevador envolvidos num beijo tão forte e intenso que traduzia muito bem todo o tempo de expectativa. As horas daquela noite e os meses, eu digo.

Em passos duplos arrastados chegamos ao quarto escolhido, a porta fechou e eu perdi completamente a noção de tempo e espaço. Exceto pelo vão bem preenchido que era feito pelos longos braços dele. Eu nunca reparo nessas coisas, mas na hora lembro de achar graça ter de ficar na ponta dos pés e de levar uma advertência pelas mordidas - de brincadeira, claro.

O tempo parado e as coisas acontecendo feito música. As mãos deslizavam por dentro das roupas e elas não estavam mais ali. A pele descascando de praia era vasculhada por mãos, dedos, olhos, língua, boca, fome, vontade e permissão. Eu tentava manter alguma concentração pra deixar minhas marcas de dedos nele, pra poder dizer que estive ali aquela noite.

Com aquela música, eu dancei a noite inteira. Dança por todos os cômodos, em todos os ritmos e a música tocava alta só pra nós dois ouvirmos. "Dormir? Dormir? Não poderia dormir naquela noite! Nem por todas as jóias da coroa!"

Por fim, a água. Escorria do meu, passava pro dele e se perdia nos dois. Mais música, e mais dança coreografada executada com maestria por ambos. E no fim, água ofegante e sorridente.

Cama, JB FM, Beija Eu, Café da Manhã, Roupas, Bom Dia RJ, Bom Dia Brasil, Telefonema, Conta, Saída, Ônibus, You Make my Dreams by Hall & Oates, minha cama e dormir.

Não sei se consegui tudo o que pretendia, mas a intenção inicial foi alcançada com sucesso sem precedentes. Finalmente, ô! Fi-nal-men-te.

Trip Hoppin'