sábado, 26 de dezembro de 2009

Mãos

Mãos, que não são as minhas.
Mãos. Grandes e fortes.
Me deixam a vontade.
Massageam. E que massagem.

Mão e língua. Passeam e salivam.
Testam a sensibilidade e arrepiam.
Pelo. Mão. Língua. Beijo, não.

Mãos grandes que apertam, afastam e descobrem.
Deslizam pela pele vermelha sem medo do rigor da fricção.
"Quarteirão. Mas o que vou beber?"
Lingua. Ouvido. Rosto. Cachorro.

Mãos. Línguas. Pernas. Sono e Chuva.
Pega o lençol, afasta os travesseiros.
"Coca-cola. É isso."
Minhas mãos alcançam as roupas.

Mãos. Grandes, fortes e seguras.
Mãos. Que não são minhas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Vingança de Rafael

Fosfobox, sexta a noite. 23:00
Tinha acabado de entrar e foi a primeira coisa que vi. Moreno baixinho, magriceeelo, cabelo raspado e rostinho pequeno. De lembrar daquela tarde no cinema, arrepiei todo. Do jeito ruim.

Não estava sozinho, mas não estava acompanhado. Dançava com um outro garoto cuja fisionomia eu não faço idéia de como fosse agora. Podia ser um dinossauro que não ia lembrar. Só pensava em quão peculiar era o fato do Rafael estar ali naquela noite. As coisas realmente voltam pra gente.

Dançava só com esse amigo. De longe, sem flertes e olhares e mãos nem nada. "Também, né." Pensava eu.

Tinha me visto quando cheguei, certeza. Claro que olhei de lado, dancei pra outro canto e não vi ninguém.

"Filho da puta". Deve ter pensando, sem dúvida. Mas continuou dançando e cochichando algo no ouvido desse amigo.




Fosfobox, madrugada de sábado. 03:00
Não vi (nem tinha como ver), mas certamente foi assim.

Rafael estava parado perto do bar, bem em frente a mim. Sua expressão facial beirava o ridículo de tanto que ria. Seu amigo ao lado tinha saído pra dançar alguma outra coisa na pista rock de baixo e voltava ensopado.

Contou a historia para o amigo, e agora eram duas pessoas rindo a minha frente. Não enxergava nenhuma delas. Só ouvia uma voz distorcida me perguntando se eu tinha exagerado.

It doesn't pay to be a runaway lover.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Exorcismo em dezoito linhas

Quando você pensa que é o pior de todos,
você descobre que o mundo realmente tá cheio de gente.
Mas tudo bem, eles não sabem usar as palavras e celulares ainda.
Tudo parece gratuito e divertido.
Não se mede o peso de nada. (porque não se sabe)
Mas tudo bem, não preciso me sentir sozinho nessa história toda.
Eu faço parte de um grupo peculiar nesse museu.
E não vou mais me lavar com essa velha água de banho.
O bom disso tudo é que o Outono sempre chega.
Pra todas as obras de arte. :)
O verão não dura pra sempre.
Aliás, nem dura muito. Três semanas, né?
Ou menos.
Acho que é por isso que delimitam linhas entre os números.
Embora, não acredite e não goste dessa classifição.
O negócio é que
tudo que você dá
volta pra você.





adendo: agora vejo que o mais sensato seria sair correndo do prédio desabando só de cuecas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Seis Horas (4 de 4)

Eu sempre esqueço.
Ah, e voltar de Los Angeles sem um resfriado não tem graça. Deve ter sido a cerveja de segunda ou a chuva de quarta-feira.

Agora estou aqui sentado na rodoviária na tal sala VIP da companhia de ônibus.
Estranho eu num lugar desses... Tanto que até antes de entrar, perguntei (na minha melhor interpretação de Julia Child):

- Do que eu preciso pra ficar aqui?

Enfim, o lance é bem esse: estou aguardando pacientemente por uma hora até meu ônibus chegar. Uma hora.
"Anyone who knows me, knows how much I hate to wait." Sábia, Madonna.

E depois mais seis horas de viagem. É muito surreal sair de uma cidade pela manhã e chegar a outra no final da tarde.

Eu sempre esqueço que viagens de ônibus demoram pra caralho. E demoram mais quando se está acordado.

Engraçado eu dizer isso agora, mas a adrenalina vai a mil só de pensar em voltar. Digo isso por todos os motivos possíveis.

Por mais que tenha aprendido com a Summer a evitar esse duo Expectations/Reality, não posso evitar imaginar a cara de um, o sorriso do outro, o espanto daquela e até o desprezo de um ou outros.

Meu Deus! Meia hora pra partida ainda! Não consigo parar de tossir!

É isso. Mamãe, to de volta.

Levando Pacotes (3 de 4)

1 imã
1 pequena caixa dourada
1 tecido verde e uma faixa branca
1 louça embrulhada
1 caneca com desenho de gatinho
1 peça feita de bambu
1 par de tênis
1 colar
2 posters
3 ou 4 pacotes pequenos

E de repente estava todo mundo comigo, apertado dentro daquele quarto em Los Angeles.

Em São Paulo fui ao Cinema (2 de 4)

Chegou uma senhora sozinha.
Passou na minha frente, na minha fileira com sua bolsa preta brilhante e uma pequena bolsa de presentes.

Acomodou a si e suas bolsas em uma cadeira ali próximo.
De modo que estávamos - sentido horário - eu, um casal ardoroso de namorados e ela.

Rasgou o ar um toque polifônico, aparentemente um rock antigo. Ela acompanhou a música animadamente, como num show ou no chuveiro.
Leve, despreocupada, procurando algo na bolsa, cantando, sozinha, feliz.

Eu estava ali, do lado oposto. O filme começou.

Três dias longe de Clocktown (1 de 4)

I don't like cities, but I like New York.
Other places make me feel like a dork.

Los Angeles is for people who sleep.
Paris and London, baby you can keep.

Baby you can keep,
Baby you can keep.

Other cities always make me mad.
Other places always make me sad.
No other city ever made me glad,
Except NY.
I love New York.


If you don't like my attitude, then you can F-off
Just go to Texas, AND YOU CAN SUCK GEORGE BUSH'S DICK!

New York is not for little pussies who scream
If you can't stand the heat, then get off my street

I love NY
I Don't love You
But I Love NY!


"New York is a state of mind, it's not a place."