quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mer Girl (adaptado)

E eu senti a chuva, provei das minhas lágrimas
Eu xinguei os anjos, provei dos meus medos

Então o chão se abriu debaixo dos meus pés
E a terra me acolheu em seus braços
Folhas cobriram meu rosto
Formigas marcharam nas minhas costas
O céu negro se abriu, me cegando

E eu senti o cheiro da carne dele queimando
Seus ossos podres
A sua queda

Eu corri e corri
(Eu estava procurando por mim)
E ainda estou correndo

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Correndo por Fora

O som do despertador tem como função cortar o ar e me fazer pular da cama, mas naquela manhã era apenas música para os meus ouvidos.
O horário de verão faz o cedo ficar ainda mais cedo, com o céu ainda negro e as luzes da rua ainda acesas.

Não reclamo do horário, saindo assim tão cedo é bastante provável que chegassemos na praia antes do amanhecer, até.

O sentido é incomum para um sábado as 05:30 da manhã, então o ônibus estava vazio. Mochilas, bolsas e sacolas mostraram-se um empecilho, mas nada que diminuisse a animação. "Uma boa hora para ter um carro", lembro de ter pensado.

Ao finalmente chegar na praia, o dia começava a ensaiar o amanhecer. O sol ia saindo devagar, com preguiça parecida com a nossa, que ainda estávamos com sono.

Após achar a locação, firmar acampamento e de fato começar a fotografar é que a sensação de realização vinha. "Era isso que eu vinha desenhando na minha cabeça há uns seis meses." Eu sempre fico meio abobado quando essas coisas ficam... tangíveis.

A luz da manhã se despejava sobre a modelo, enquanto ela desferia golpes típicos de Muay Thay no vento ou fazia a dança da "garota colocando maquiagem".

O dia ia se firmando. O sol saiu forte naquela manhã e nós resolvemos ficar mais por ali, mesmo com o trabalho concluído. Era como se brindássemos em nossas taças imaginárias o sucesso da empreitada. E eu me lembrava do caminho percorrido até ali, com os pés naquela areia.

É aí então que, como o clique de uma máquina, eu sou retirado do meu transe e trazido de volta pro escritório de onde não tinha saído naquela terça-feira. Na minha mesa ainda estavam as planilhas dos funcionários do plano de saúde e uns cinco e-mails novos sobre o mesmo assunto tinham acabado de chegar.

Lá fora era tudo cinza e a chuva ameaçava cair. Bem diferente da sensação dos pés na areia de praia.



ps: é aí que tento me convencer que estou tal qual Nong Toom derrubando um adversário por dia, sem muita perspectiva de término - mas um dia acaba.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

27 segundos

Qual tipo de música voce ouve mais?
Tem algum filme que te faça chorar? E você o assistiria comigo?
Como você ajeita o arroz e o feijão no seu prato?
Qual a cara que você faz enquanto dorme?
E como você acorda?
Você prefere sentar na janela nos ônibus?
Você dá o seu lugar as velhinhas?
Onde você pensa em passar as suas férias?
Que tipo de cueca você prefere?
O que você achou do Zelda novo? Não jogou ainda?
Qual sua cerveja favorita?
Os vendedores de amendoim nos bares incomodam você?
Você também detesta house music?
Por que você escolheu essa faculdade?
Você é feliz no seu trabalho?
Quando pequeno você fingia ser um Power Ranger?
Você gosta de doces?
Já jogou volêi na praia?
Já perdeu algum animal de estimação?
Você está me ouvindo?
Qual o seu nome?

Não dá tempo de perguntar isso enquanto você veste as suas calças de volta.

domingo, 29 de maio de 2011

Rodrigo e os Futuros Imperfeitos

Não é todo dia que você se depara com o que pode ser o seu futuro.
Nesse último sábado, eu estava numa sala com dezenas de possibilidades.



Cambaleando pelas bancadas, apoiados nas colunas. De casacos de veludo, de camisetas regatas finíssimas naquele frio.
Beijavam como se fosse a última noite de vida, ou se tentassem sugar algo além da saliva daquela diferença temporal entre os dois corpos envolvidos.
Iam embora cedo, sozinhos ou acompanhados - estes ostentando como troféus a companhia novata que ia durar até por volta do fim da manhã.
Exibiam os seus corpos dos outros a quem quisesse ver (e a quem não quisesse também), de forma agressiva e impactante.

Além destes, tinha o oposto também. Os que iam sozinhos e ficavam estrategicamente vulneráveis a qualquer - sim, qualquer - espécie de ataque.
Só a idéia de entender a linha de raciocínio deles já me assusta.
Seus corpos pequenos, com pedaços da pele sobressaindo aqui e ali brilhavam feito ouro no meio daquele metal enferrujado.



Essa disputa entre esses dois polos falava - gritava - mais alto que a própria música do salão.
Teve uma hora que aquilo tudo realmente me assustou, então eu sai de perto. Seria a máxima de que a verdade dói? Ou, nesse caso, o futuro é que machuca.

Depois disso tudo me restam perguntas a ecoar na minha mente, sem resposta:
O que me separa de todos eles? Existe um limite de tempo até que se transforme em um ou no outro?

O que conforta um pouco é que eles não são regra. E que "o universo está cheio de estrelas, e nada lá fora é igual."

sábado, 28 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Eu ainda continuo naquele ônibus na volta de Campo Grande

Eu ainda vivo naquele ônibus na longa volta de Campo Grande
Onde fazia um frio desgraçado e eu estava de bermuda
Você usava a minha camisa vermelha que nunca mais tive coragem de vestir

Ainda vivo sentado na última fileira de assentos,
onde te via ajoelhado nos bancos da frente olhando pra mim
e meus olhos iluminavam a Avenida Brasil inteira aquela hora da noite

Eu continuo sentado lá
ouvindo você falar
que sente ciúmes de mim com a Monique, com o pessoal da Ilha, com todo mundo.

Fico com as costas apoiadas no encosto macio do banco do ônibus
tirando um pelo branco do seu rosto e sorrindo porque
você "acha bonitinho demais eu me preocupar com o que tem no seu rosto"

Quando na verdade eu fico sentado aqui, no meu quarto
olhando pra essas peças e tentando encaixá-las
sem nenhum sucesso

domingo, 24 de abril de 2011

O dublê.

No começo eramos só eu e você. E ele. Escondido entre minhas palavras, entre meus sorrisos e carinhos.
Nós três saíamos juntos, mas no começo eu e você sentávamos na mesma mesa. Ele se sentava numa mesa mais distante.

Costumávamos dormir no mesmo quarto, eu e você deitados na cama falando bobagem e se beijando como se o mundo fosse durar pra sempre. Ele se deitava no chão.
Nas manhãs eu te acordava com um beijo de bom dia e me preparava pro trabalho. Você ficava na cama, rolando e sendo adoravelmente preguiçoso. Ele ainda estava no chão, esperando.

Então um dia como que num estalo você sentiu falta dele, e finalmente o viu sentado na mesma mesa que a gente enquanto comíamos. No mesmo ônibus indo pra casa. Segurando a sua mão no cinema. Era com ele que você conversava.
Você não me via mais. Era você e ele. E eu me deitava no chão.

Mas a verdade é: ele não te vê também, vê?